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E você, ainda culpa o elefante?!

By 11:58 , , , , , , , , , , , , , , , , ,


Nessa semana foi noticiada a morte de um turista escocês em um acidente com um elefante na Tailândia. O post do Estadão que reportou o acontecido questiona: Você ainda culpa o elefante?

Eu levei bastante tempo pra entender o que acontece com os elefantes que são utilizados para passeios turísticos e outros fins. Hoje sinto bastante vergonha de já ter montado  elefantes. E por isso, gostaria de compartilhar com vocês o que eu aprendi nesses meses na estrada para que vocês, ao contrário de mim, não precisem aprender com experiências erradas.


Elefante visto em um safári no Parque Nacional do Chobe - Botsuana
Bom, vamos começar lá do comecinho. Iniciei minha trip pela África, mais exatamente pelo sul. Lá, eu pude visitar a África do Sul, o Zimbábue e o Botsuana. Nestes dois últimos países existe uma população muito grande de elefantes selvagens, sendo possível vê-los às margens das rodovias, cruzando as estradas e, principalmente, durante os safáris.

Elefante cruzando a estrada em Victoria Falls - Zimbábue
Nos dias em que passei no Zimbábue, como já falei em um post anterior (que você pode ver aqui), visitei dois programas relacionados a animais selvagens, o Lion Encounter e o Elephant Back Safaris and Interaction Victoria Falls. O primeiro visa a aumentar o número de leõs no ambiente natural e através do passeio com os animais, arrecadar fundos e realizar educação ambiental. Já o segundo é uma espécie de retiro para elefantes órfãos que foram resgatados e hoje são treinados com técnicas que, supostamente, não depreciam nem maltratam os animais. Porém, uma vez domesticados, eles não podem mais retornar para a vida selvagem, dependendo do espaço e dos recursos que a ONG disponibiliza.


Processo de adaptação aos elefantes do Wild Horizons
Nesse retiro são realizados safáris com elefantes ou Game Drive, como costumam chamar por lá. Eles consistem em um passeio nas costas do elefante pela área da ONG para observar animais selvagens. No retorno, os elefantes são alimentados pelos turistas como uma forma de agradecimento. Os animais pareciam bem cuidados, mas apesar do encantamento por esses seres gigantes e adoráveis, saí de lá com alguma coisa me incomodando, o que eu só fui entender muitos meses depois, na Tailândia.


Game Drive no Zimbábue
A segunda vez que eu montei um elefante foi na Índia, em um daqueles passeios que já vêm inclusos no pacote. O trajeto não era muito extenso, era a subida até o forte Amber, onde, enfileirados, os elefantes carregavam turistas morro acima. Normalmente este é o tipo de passeio que eu evitaria, simplesmente por não ter conotação cultural, ambiental ou social que justificasse fazê-lo. Mas a confusão (que só o turista que já foi abordado por dezenas de ambulantes ao mesmo tempo em visita a algum país asiático entenderá) no desembarque do ônibus deixa qualquer pessoa completamente desnorteada.


Tentando parecer uma turista "normal" na subida do forte Amber, Jaipur, Índia
Desci do ônibus e segui, tentando o mais rápido o possível sair do meio daquele monte de gente querendo vender algo a qualquer custo. Mas eles nos seguiram por todo o trajeto, insistindo para que comprássemos algo. Nesse contexto social, onde você vê dezenas de pessoas em uma situação desesperadora, um misto de irritação e comoção tomam conta e  é praticamente impossível lembrar do pobre elefante. Na verdade, você só começa a se dar conta do que fez quando, ao fim do passeio, olha de cima do forte a fila imensa de elefantes, a primeira vista encantadora e posteriormente atordoante.


Subida do forte de Amber feita nas costas dos elefantes.
Uma cena, a primeira vista, encantadora.
Depois de mais alguns meses de viagem, finalmente cheguei à Tailândia. Passei alguns dias em Bagkok e segui pra Chiang Mai, no norte do país. Um dos objetivos da minha visita era passar um tempo em um retiro para elefantes que achei pela internet chamado Elephant Nature Park. Tentei ser voluntária, mas não havia mais vaga. Então, decidi passar 2 dias e uma pernoite para poder ter um pouco mais de contato com os animais. E, definitivamente, recomendo essa experiência para quem puder!


Elephant Nature Park - um retiro para os elefantes
A visita que eu fiz consiste do seguinte: No primeiro dia, assim como todos os outros visitantes, alimentamos os elefantes da plataforma da sede do Parque. Esse é o primeiro contato com os animais e já é uma farra!

Alimentando os elefantes com melancias no Elephant Nature Park
Depois visitamos as instalações de alguns elefantes que estão isolados, pois estão doentes e sendo tratados. Podemos dar água aos elefantes durante esta visita.

Dando água para um elefante doente que está isolado
Depois de conhecer um pouco melhor as instalações, chega a hora mais esperada do dia, a de dar banho nos elefantes. Espero que tenha sido tão divertido para o nosso elefante, quanto foi pra nós. Porque, obviamente, o banho dele acabou em uma guerra de água. O que não poderia ser mais prazeroso, considerando o calor que faz na Tailândia no mês de setembro - época de monções.

Dar banho nos elefantes é, sem dúvida, a parte mais divertida da visita
Depois de passar o dia em diversas atividades pelo retiro, você se hospeda em um dos bangalôs super bacanas que eles têm na propriedade e se prepara para o dia seguinte. As refeições vegetarianas, preparadas pelos voluntários, também estão inclusas no pacote e são deliciosas.

O "modesto" quarto do Parque
No dia seguinte as visitas ficam ainda mais interessantes e o contato com os animais, mais próximo. Vamos, junto com nosso guia, conhecer os diversos grupos de elefantes do retiro. Dentre os momentos mais marcantes do nosso segundo dia posso mencionar: sermos perseguidos por um filhote de elefante que havia sido provocado pelos cachorros que nos acompanhavam; alimentar frente a frente uma elefante que vive isolada devido a um retardo mental ocasionado pela ingestão de drogas; e andar na mata fechada para verificar como como os cuidadores estão tratando os elefantes.

Alimentando uma elefante com problemas mentais
Durante todas essas atividades que fizemos pudemos ver diversos animais machucados mental e fisicamente. Animais cegos, amputados, surdos, loucos e com todos os tipos de lesões imagináveis e inimagináveis. Lá aprendemos que para que um animal selvagem como o elefante seja domesticado, ele passa por todo o tipo de maltrato, até que submeta ao seu "cuidador". Alguns destes animais foram utilizados para tração, outros para passeios, outros para tirar fotos, entre outros tipos de exploração. 

Outro problema relacionado ao uso de animais para o turismo é que uma vez domesticado, o elefante não tem mais condições de retornar ao ambiente natural, pois não consegue sobreviver. E os filhotes nascidos em cativeiro não têm quem os ensine a sobreviver na selva e também ficam impossibilitados de retornar à vida selvagem.

Então, mesmo que o animal pareça saudável e mesmo que o projeto pareça bacana, acho que já temos motivos mais do que suficientes para nunca mais montar um elefante na vida, não é?! E quem quiser ter contato com os animais, pode ir em algum dos muitos retiros para elefantes maltratados na Tailândia.

E sempre que tiver vontade de montar ou tirar fotos com elefantes ou qualquer outro animal, lembre-se que ele está sendo explorado porque pessoas como eu e você pagam por isso!

Ficar cara a cara com um elefante na floresta é uma experiência indescritível
E por fim, deixo meu desabafo publicado em 23 de setembro do ano passado no meu perfil do Facebook como apelo para que parem de montar elefantes!

"Agradeço ao Elephant Nature Park pela oportunidade de conhecer melhor a realidade dos elefantes aqui na Tailândia, que não é muito diferente de tantos outros lugares. É triste demais ver elefantes deficientes, cegos e com retardo mental devido aos maus-tratos por seres "humanos". Mas também é fantástico ver um projeto como este, que deu certo, cuidando de mais de 60 elefantes, dando-lhes qualidade de vida e tranquilidade depois de tanto sofrimento. 

Quando nós, turistas, montamos um animal como esse, não temos ideia do impacto que causamos na vida dele. Mesmo que ele aparente ser bem cuidado, esse animal saiu do seu ambiente natural para ser domesticado e usado para turismo, transporte, etc. Ele vai sofrer uma série de abusos no processo de domesticação e nunca mais estará apto a viver como um animal selvagem novamente. Também seus filhotes, nascidos em cativeiro, não terão a oportunidade de aprender como sobreviver na selva. 


Acho que é mais do que suficiente para nunca mais montarmos um animal selvagem de novo, né?! Você quer ver um elefante?! Visite um desses projetos "santuários". Mas não monte mais esses animais quando for para o exterior. Isso só faz com que os capturem mais e mais em nome do turismo! ‪#‎stopelephantrides‬".



Espero que tenham gostado!



Beijos da Rosa viajante!







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2 comentários

  1. Oi Fabi! Eu também fiz esse passeio de elefante na África do Sul e me envergonho totalmente! Fiz uma observação sobre esse arrependimento no meu blog e coloquei o seu link para complementar.
    Assim como nós, muita gente não faz ideia das situações horrorosas nas quais os animais são submetidos. Acho que temos que divulgar isso sempre que possível.
    Bjxx
    Rachel Duarte

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    Respostas
    1. Oi Rachel! Obrigada por ter colocado o link no seu post! Concordo com você e acho que temos que divulgar ao máximo essas as nossas experiências! Que a nossa vergonha sirva de exemplo, né?! Bjs e até! 😉😘

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